sábado, 9 de março de 2013

Deserto interior


Moisés, o Povo e Cristo recolhem-se ao deserto. É o lugar favorável e oportuno para o silêncio interior, a solidão de coração, para o encontro mais a sério com Deus e connosco próprios. Lugar privilegiado para a oração mais intensa, mais profunda e mais íntima. No reboliço do mundo, na algazarra, na azáfama não conseguimos rezar, entrar em comunhão com Deus. E quando o nosso interior anda agitado, a imaginação turbulenta, o coração pouco sereno, não conseguimos rezar, ter capacidade de recolhimento. O deserto da Quaresma deve ser ocasião oportuna para uma maior oração.
  Mas o deserto é também lugar de encontro connosco. Tempo para nos vermos por dentro, para repensar a vida, aferir critérios, para nos vermos «aos olhos de Deus». Habi­tualmente, andamos à superfície, na mediocridade, na incapa­cidade de nos interrogarmos e nos questionarmos. O deserto da Quaresma é ocasião oportuna para nos deixarmos inter­pelar pela Palavra, para sairmos dos nossos esconderijos, para nos olharmos com coragem e de frente.
  E neste deserto no meio da vida, ao encontrarmos Deus pela oração e ao nos encontrarmos a nós, vamos purificando o nosso passado e lançando nova plataforma para o nosso futuro. Só assim haverá «passagem», Páscoa verdadeira na nossa vida.

Dário Pedroso, S. J.,Caminho de Libertação, 3.ª edição, revista, Editorial Apostolado da Oração, Braga, 2008, págs. 14-15

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