Moisés, o Povo e Cristo recolhem-se ao
deserto. É o lugar favorável e oportuno para o silêncio interior, a solidão de
coração, para o encontro mais a sério com Deus e connosco próprios. Lugar
privilegiado para a oração mais intensa, mais profunda e mais íntima. No
reboliço do mundo, na algazarra, na azáfama não conseguimos rezar, entrar em
comunhão com Deus. E quando o nosso interior anda agitado, a imaginação
turbulenta, o coração pouco sereno, não conseguimos rezar, ter capacidade de
recolhimento. O deserto da Quaresma deve ser ocasião oportuna para uma maior
oração.
Mas
o deserto é também lugar de encontro connosco. Tempo para nos vermos por
dentro, para repensar a vida, aferir critérios, para nos vermos «aos olhos de
Deus». Habitualmente, andamos à superfície, na mediocridade,
na incapacidade de nos interrogarmos e nos questionarmos. O
deserto da Quaresma é ocasião oportuna para nos deixarmos interpelar
pela Palavra, para sairmos dos nossos esconderijos, para nos olharmos com
coragem e de frente.
E
neste deserto no meio da vida, ao encontrarmos Deus pela oração e ao nos
encontrarmos a nós, vamos purificando o nosso passado e lançando nova
plataforma para o nosso futuro. Só assim haverá «passagem», Páscoa verdadeira
na nossa vida.
Dário Pedroso, S. J.,Caminho de Libertação, 3.ª edição, revista, Editorial Apostolado da Oração, Braga, 2008, págs. 14-15
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